Em coluna recente, desapontei alguns leitores ao revelar que nunca beijei Jane Fonda, nunca tolerei Bob Dylan, nunca dirigi um avião e não tenho celular, Instagram ou Facebook. As três primeiras deficiências foram magnanimamente absorvidas. Mas as três últimas me marcaram como um contemporâneo dos pterodáctilos, um inimigo da tecnologia.
É uma injustiça, sou fã da tecnologia. Mas, por mais que me empenhe, vivo correndo atrás. Assim que adoto uma de suas maravilhas, ela é cancelada por um dispositivo mais avançado e, enquanto estudo a possibilidade de aderir a este, fico sabendo que ele também foi superado e que já há outra novidade a caminho. É um turbilhão.
O orelhão, por exemplo. Durante décadas, sempre que na rua, fui seu grande usuário. Mas, nos anos 90, a ficha, com que ele funcionava tão bem, foi substituída por um suspeito cartão. Nunca mais falei neles.
Pouco depois, o orelhão foi sucedido pelo celular, que, no começo, não passava de um orelhão portátil. E, quando eu ainda estava analisando o bicho, eis que o celular se inspirou no Bom Bril e se tornou um produto de 1001 utilidades, todas muito complexas para mim.
O mesmo quanto ao computador. Escrevo exclusivamente em computadores desde 1988, quando eles ainda eram do tamanho de um fogão e gravavam nossos textos em disquetes flexíveis, de quase um palmo de altura.
De lá para cá, os computadores evoluíram muito, e eu com eles —mas sempre com um equipamento dez anos atrasado, para que ele não se meta a exigir operações além da minha capacidade.
Aliás, para que pressa? Sabendo que, um dia, tudo que se inventa acaba superado, limito-me a relaxar e tratar da vida.
Ouvi dizer que, daqui a dois anos, os grandes musts de hoje, WhatsApp, Zoom, Kindle, Bluetooth etc., estarão tão defasados que ninguém saberá mais para que serviam. Estou apenas me antecipando.
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