terça-feira, maio 11

Enquanto é maio

Darren Thompson
Durante quatro ou cinco meses por ano, o Rio é uma cidade desesperadamente infernal, com o seu calor. E eis que de repente os termômetros se comportam e o céu azula e o ar se limpa e se purifica, o mar lava as suas ondas, as árvores pintam de luz o verde das suas folhas e tudo se adoça, dentro e fora dos seres humanos.


E me inquieto e quisera ser ubíqua e onipresente, pois não posso sair daqui, nem um minuto, e perder o Rio, nos seus dias de maio. E Petrópolis, ali, junto, está um delírio de beleza. Teresópolis, Friburgo, Penedo, Itatiaia, São Paulo, Caraguatatuba, Parati e Vila bela hão de estar igualmente esplendorosas. E que diremos de Salvador e Recife, quem sabe se até Brasília? Pois é maio em todas elas. O que sobremaneira nos inquieta, pois já não será possível festejar o acontecimento em todas essas latitudes.

E vos escrevo, vigiando a paisagem pelas janelas abertas, pois não sei se ficará muito tempo assim à minha espera. E tenho remorsos de ir ao cinema e teatro, pois é um privilégio assistir a tais espetáculos em maio, mas uma tristeza perder um minuto que seja de maio, do lado de fora deles.

E é mister reunir os amigos e amar mais do que nunca os bem-amados e agradecer – ah, não voz esqueçais – aos vossos deuses, não importa quais sejam, o breve, o precário, o maravilhoso privilégio de estardes vivos e sãos e alegres, em maio.
Elsie Lessa. “A Dama da Noite”

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