segunda-feira, maio 31

A morte dos românticos

Lorser Feitelson

Se houvesse justiça para os poetas, os da escola romântica mereceriam morrer pelo menos três vezes, todas por amor.


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Nos livros eróticos antigos há metáforas curiosas. Uma das mais recorrentes é a das espadas que gotejam mel.

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Não temam, eu serei breve. Sou um tipo ultrapassado, sou uma voz do passado, sou um defunto que escreve.

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O haicai é uma espécie de milagre envergonhado, um fiozinho de sol que quase pede desculpas por se demorar um instante a mais numa árvore, quando todas as outras do pomar estão já entregues à noite.

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Conhecemos já, pelo menos de ouvir falar, a gramática histórica, a gramática expositiva, a gramática normativa e a gramática punitiva. Estamos esperando a gramática permissiva.

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É um daqueles gramáticos autoritários que, em qualquer situação cotidiana, como uma briga de bar, sacam como argumento definitivo a mais mal-encarada crase do seu estoque.

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A viúva Seixas acha que o fantasma que começou a visitá-la nas noites de sexta-feira é uma versão semelhante ao falecido, com duas notáveis diferenças: tem mãos mais frias e fala inglês.

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Depois de três meses de visitas à viúva Seixas, o fantasma pela primeira vez foi indelicado, o que a arguta senhora atribuiu a uma agulhada de ciúme: ele quebrou a moldura de uma foto na qual, na sala, o extinto marido segura virilmente um enorme peixe puxado para dentro de um barco.

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Querer ainda ser artista, assim como outros quereres, não é uma coisa sobre a qual eu possa estar certo como estive outrora.

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Cada vez que me reanaliso, encontro uma pessoa pior. E entendo, com maior nitidez, que meus esforços literários foram sempre uma tentativa de, advogando em causa própria, absolver-me sob a alegação de ter buscado a beleza.
Raul Drewnick

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