Há anos, em meu livro “Ela é Carioca”, arrisquei que, se o Brasil um dia acordar para Lúcio Cardoso, haverá quem se pergunte sobre onde estávamos com a cabeça. Lúcio foi ignorado por não ser “realista”, nem de “esquerda”, nem de “vanguarda” ou qualquer exigência então em moda. Era um autor de livros com mais reflexão que ação, passados nos quartos escuros da alma, num ritmo que não se media por relógios.
E não poupava a si mesmo. Veja essa amostra de suas frases que recolhi em crônicas e entrevistas.
“Não sou um escritor, sou uma atmosfera”. “Escrevo porque não tenho olhos verdes”. “Todas as paixões me pervertem, todas as paixões me convertem”. “Sou da raça dos que se alimentam de venenos”. “A política é um modo de organizar e dirigir os homens. Mas, a mim, eles só interessam livres e desorganizados”. “Tenho o Rio nas minhas veias como uma doença”. “O que mais me agrada nas litografias é o silêncio. Silêncio do preto, silêncio do branco. Silêncio do preto e do branco unindo-se para compor essa pausa imensa —o cinza”. [Sobre o dinheiro]: “Vivo de ganhar aquilo de que eu morro”. “‘O Diário de Anne Frank’ é um modelo de como deve ser a existência de um escritor —como um prisioneiro”. “Escrever é um modo de agonizar de olhos abertos”.
“Crônica da Casa Assassinada” está de volta às livrarias depois de longa ausência. A literatura brasileira, subitamente mais adulta, agradece.
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