Não, ninguém nos montava: corríamos libertos por uma campina, desaparecemos debaixo das árvores de um bosque, chegamos a uma planície onde existia apenas um anúncio de gasolina americana. E além desse descampado, sentimos, sem dizer nada, com os nossos olhos ternos e grossos de cavalo, que o mar ao longe estava batendo e tremia, as ondas se empinavam em desafio, crinas de espuma eriçadas, relinchando no vento. Era um mar mais estranho que o mar, cavalos de água se erguiam e desmanchavam, nós corríamos de encontro a ele em um galope igual.
Ah, o mar não deteve a nossa corrida, mas avançamos sobre as ondas, as nossas patas mal tocando a água verde, livres sobre o mar livre, focinho com focinho, ilharga contra ilharga, passamos debaixo do arco-íris e decolamos. Voávamos perto das vagas que molhavam as nossas bocas com suas gotas salgadas quando de repente anoiteceu sem qualquer solidão. Apenas o teu olhar manso e rutilante de animal na escuridão. Sentia o calor de teu grande corpo e meu coração me feria como se um punho fechado batesse com força em meu peito.
Sim, sei perfeitamente, qualquer Freud de porta de venda pode explicar o meu sonho; mas nunca poderá roubá-lo.
Houve um momento em que nos envolvemos num turbilhão de estrelas pequeninas. E nada mais.
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