J. Raquel Duque |
Para se ser livre é preciso pensar-se que se pode ser um bardamerda (e mais, sendo provável que se seja) mas que isso não impede a nossa vontade (que é deliciosa muito antes de ser um direito) de se dizer o que se pensa.
A liberdade é aquilo com que nascemos, com que os bebés se exprimem. A contenção é que é ensinada. Todas estas regras, boas e más (até acredito que msis de 50 por cento sejam boas), só servem para nos reprimir.
A vida é muito curta e a coragem é muito pouca. Os outros assustam muito mais do que querem e Sartre, quando não disse exactamente que «o inferno são os outros» estava a fazer questão de falar da nossa excessiva (e estúpida) dificuldade de falar e agir colectivamente.
O amor e a amizade são as duas grandes provas do valor da liberdade. A vida é uma sentença a que todos estamos condenados. Estarmos vivos não pode ter qualquer valor, por muito que custe à brigada comercialista que nos quer congratular por não termos morrido.
Ser livre é estar à mercê do que não se escolheu. Eu sei lá porque amo a Maria João. Sei explicar e aprendi a fazer listas mas nunca me dei conta - graças a Deus - de ter tomado uma decisão «nesse sentido», como fria e topograficamente se diz.
A liberdade não é não estarmos presos: é estarmos presos e felizes, às pessoas e às ideias que amamos, sem sabermos porquê. Mas sabendo como, até morrermos.
Miguel Esteves Cardoso
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