sábado, abril 9

Escolas americanas proíbem mais de mil livros em tentativa de censura

Mais de mil obras literárias, a maioria delas tratando de questões como racismo e LGBTQIAP+, foram banidas de salas de aula e bibliotecas escolares dos EUA nos últimos nove meses, disse a organização de escritores PEN America nesta quinta-feira. Muitos desses títulos foram proibidos por pressão de pais e funcionários conservadores.

A PEN compilou um banco de dados de obras proibidas que inclui, por exemplo, o primeiro romance da ganhadora do Prêmio Nobel de 1993, Toni Morrison, e um livro de memórias do ator e ativista George Takei contando sua experiência em um campo de internação na Califórnia como uma criança nipo-americana durante a Segunda Guerra Mundial.

"Oposição aos livros, especificamente livros de autores não brancos, está acontecendo nas taxas mais altas que já vimos", disse Jonathan Friedman, diretor do Programa de Expressão Livre da PEN America e principal autor do relatório, em um comunicado à imprensa. "O que está acontecendo neste país em termos de proibição de livros nas escolas é incomparável em sua frequência, intensidade e sucesso".

Nos últimos meses, pais conservadores se dirigiram a reuniões de conselhos escolares em vários estados para atacar livros que consideram sexualmente explícitos ou que abordam o racismo de forma a fazer as crianças brancas se sentirem mal consigo mesmas.

No Congresso, o Comitê de Supervisão e Reforma da Câmara dos Deputados realizou nesta quinta-feira uma audiência sobre a proibição de livros e a censura acadêmica. No início da semana, a American Library Association divulgou sua própria lista de livros proibidos que acompanharam de perto os resultados do PEN.

— Aprenda a tolerar o discurso que você abomina, bem como o discurso com o qual você concorda — pediu o deputado Jamie Raskin, democrata, tanto aos conservadores quanto aos liberais. — Se cancelarmos ou censurarmos tudo o que as pessoas consideram ofensivo, não sobrará nada.

Raskin citou críticas da esquerda que buscam remover o clássico de Mark Twain "As Aventuras de Huckleberry Finn" (1884) porque usa um insulto racial, embora seu tema geral seja oposto ao racismo e à escravidão.

O PEN descobriu que 86 distritos escolares removeram 1.145 títulos de suas prateleiras nos últimos nove meses, alguns permanentemente e outros enquanto uma investigação estava em andamento.

"O olho mais azul" (1970), de Morrison, foi removido em 11 distritos escolares, enquanto "Out of Darkness" (2015), de Ashley Hope Perez, foi removido em 16 distritos. Ambos os romances abordam o racismo e incluem conteúdo sexual. "Gender Queer: A Memoir" (2019), de Maia Kobabe, foi removido em 30 distritos, disse a organização.

Mais de dois terços dos livros proibidos eram de ficção, mas títulos de não ficção, incluindo biografias de personalidades como Rosa Parks, Martin Luther King Jr, Duke Ellington e Nelson Mandela também estavam entre os removidos das prateleiras e currículos escolares. Cinco coleções de poesia também foram proibidas.

Quatro em cada dez das obras foram censuradas por pressão política em oito distritos escolares no Texas, Carolina do Sul e Geórgia, segundo o relatório.
Sharon Bernstein

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