segunda-feira, abril 18

Miudezas, para espairecer

A tristeza, em mim, é um hábito quase tão antigo quanto respirar.

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A poesia perdeu um pouco de seu charme, mas ainda salva algumas biografias, ou pelo menos lhes serve como gracioso enfeite.

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Num romance policial, o melhor papel é o de quem morre nos braços de uma ruiva fatal.

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O poeta parnasiano sonha com o dia em que os sonetos escaparão de todos os seus bolsos e voarão para impor a beleza diante dos olhos hoje zombeteiros.

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Expressar um desgosto num poema geralmente só serve para acrescentar a um infortúnio pessoal um insucesso literário.

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Quando o grupo de jovens poetas tocou a campainha, o velho poeta pediu à mulher que nem sob tortura revelasse onde estavam escondidos os sonetos. A mulher perguntou se a recomendação servia também para as quadrinhas.


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De tudo quanto escrevi, um pouco eu não apreciei, um pouco eu abominei, e do resto eu me esqueci.

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O conceito de arte pela arte e a obstinada busca de perfeição poética soam às vezes, nos dias de hoje, tão desagradavelmente quanto insinuações de supremacia racial.

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Quem não tem palavras para agradecer é ou um mau orador ou um sujeito sovina.

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Quem assobia, seus males alivia.

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Um tantinho de loucura não faz mal a um poeta. Mas o ideal é sempre um tantinho a mais.

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Escritor bissexto é um modo respeitoso de chamar um escritor preguiçoso.

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Se proibirem o lugar-comum, o escritor medíocre não chegará a lugar nenhum.

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Camões não fazia exatamente o mesmo que nós, embora nos agradasse considerar que sim.

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Alguns dos nossos morrem tão mansamente que é como se pedissem desculpas por fechar os olhos diante de nós.
Raul Drewnick

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