terça-feira, abril 12

Novidades

Cada dia é preciso escrever sobre uma coisa nova — mas novidades, as últimas, só as há nas vitrinas de butiques, nos catálogos de acessórios domésticos, nos belíssimos e caros anúncios de medicamentos caros.

Estas é que importam, fascinam, dão água na boca — quem é que não deseja ser saudável como os ginastas das estátuas gregas ou, se mulher, ter o porte e o charme dos manequins de moda? Mas, por azar, o que mais interessa só pode ser sob prescrição médica...

O resto, quase o que só se lê, são ninharias: sequestros, estupros, assaltos e outras coisas que ficam além do alcance do vulgo. Resta a política, mas agora em mãos de especialistas, de modo que a gente fica igualmente por fora.

Parece que diante de tudo isso a única solução é fabricar fogos de artifício, girândolas, busca-pés e traques, na falta de outras coisas menos líricas.

Mas os cartolas dirão que não é tempo de lirismos. Ouçamos, pois, o que digressionam eles sobre assuntos econômicos. Isto, sim, é que toca a todos nós nestes tempos bicudos. Como?! Não entendeste nada? E alegas que é porque eles falam economês? Nada disto, meu santo. Eles acabam de expressar-se no mais puro chinês!

Mário Quintana, "A vaca e o hipogrifo"

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