domingo, agosto 13

Quem lê lê

Por não estar nas redes sociais, perco muitos dos debates que mobilizam o mundo digital —o que talvez não seja tão mau. Quando o assunto vale a pena, porém, ele costuma chegar às mídias tradicionais, que acompanho. Foi assim que, com semanas de atraso, tomei ciência da polêmica lançada pelo influenciador Felipe Neto, que se queixou do preço dos livros no Brasil. "Precisamos de uma população leitora, mas tá cada dia mais difícil. Livrarias fechando, preços disparando... Como esperar q o povo leia desse jeito? Livro não pode ser artigo de luxo", postou Neto.

A discussão sobre o preço dos livros é relevante. Não conheço o mercado bem o bastante para me meter nela, mas creio que há um problema na premissa do influenciador. É legal ter acesso aos lançamentos literários, mas não penso que a formação de um público leitor dependa do mercado editorial.

Desde o século 17, mas especialmente a partir do 19, com a popularização das bibliotecas públicas, tornou-se possível ler livros sem pagar por isso. Hoje, com a internet, onde encontramos gratuitamente várias obras que já caíram em domínio público, dá para passar a vida apenas usufruindo desse estoque de títulos, com a vantagem de que são clássicos, isto é, já passaram no teste do tempo.

Meu ponto é que o amor pela leitura resulta, como mostram vários estudos, de uma interação entre genes e ambiente. Há pré-requisitos ambientais básicos. É preciso aprender a ler e adquirir alguma proficiência nisso, mas, ao que parece, a facilidade com a qual uma criança lê, característica com fortes componentes genéticos, é que determinará se ela extrairá prazer da atividade e se tornará uma leitora habitual. Basicamente, quem lê lê.

Minha conta bancária é a primeira a advogar por livros mais baratos, mas, se precisamos escolher uma política para ampliar o público leitor, a prioridade é aperfeiçoar o processo de alfabetização nas escolas.

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