segunda-feira, setembro 4

As viúvas

Conta Vauvenargues que, nos jardins públicos, existem aleias frequentadas sobretudo pela ambição falida, pelos inventores infelizes, pelas glórias perdidas, pelos corações oprimidos, por todas as almas tumultuosas e fechadas, nas quais ainda ressoam os últimos suspiros de uma tempestade e que escapam para longe do olhar insolente dos satisfeitos e dos ociosos. Esses retiros sombrios são os pontos de encontro dos estropiados da vida.

É principalmente para esses lugares que o poeta e o filósofo gostam de dirigir as suas ávidas conjecturas. Há neles um pasto certo. É que, se um lugar existe que desdenham de visitar, como insinuei há pouco, é sobretudo a alegria dos ricos. Essa turbulência no vazio nada tem que os atraia. Sentem-se, ao contrário, irresistivelmente arrastados por tudo o que é fraco, arruinado, triste, órfão.

Uma visão experimentada jamais se engana a esse respeito. Naqueles traços rígidos ou abatidos, naqueles olhos cavos e ternos, ou com o brilho dos últimos clarões da luta, naquelas rugas profundas e numerosas, naqueles passos tão vagarosos ou tão apressados, decifram-se logo as inumeráveis legendas do amor enganado, do devotamento desconhecido, dos esforços não recompensados, da fome e do frio, humildemente, silenciosamente suportados.

Acaso já vistes viúvas nesses bancos solitários, viúvas pobres? Estejam ou não de luto, é fácil reconhecê-las. Aliás, no luto do pobre, há sempre alguma coisa que falta, uma ausência de harmonia que o torna mais pesado. O rico põe o seu sem nenhuma falha.

Que viúva é mais triste e mais entristece, a que leva pela mão uma criancinha com quem não pode partilhar seu delírio, ou a que está completamente só? Não sei... Aconteceu-me, certa vez, acompanhar durante longas horas uma velha aflita dessa espécie; empertigada, direita, debaixo de um pequeno xale usado, demonstrava em todo o seu porte uma altivez de estoica.

Estava evidentemente condenada, por uma solidão absoluta. Aos hábitos dos velhos celibatários, e o caráter masculino dos seus costumes acrescentava uma nota de mistério à sua austeridade. Não sei em que miserável café nem de que maneira almoçou. Segui-a ao gabinete de leitura, e observei-a durante todo o tempo em que, relanceando nas gazetas os olhos outrora queimados pelas lágrimas, procurava notícias de um poderoso interesse pessoal.

Por fim, à tarde, sob um céu encantador de outono, um desses céus de onde descem em profusão as saudades e as lembranças, ela sentou-se à parte num jardim, para ouvir, longe da multidão, um desses concertos com que a música dos regimentos gratifica o povo parisiense.

Foi esse, sem dúvida, o pequeno deboche daquela velha inocente (ou daquela velha purificada), o consolo bem ganho de um dos seus pesados dias sem amigo, sem palestra, sem alegria, sem confidente, que Deus deixava cair sobre ela, há tantos anos talvez! Trezentas e sessenta e cinco vezes por ano! Agora uma outra: Nunca pude deixar de volver o olhar, se não universalmente simpático, ao menos curioso, sobre a multidão de párias que se cumprimentam ao redor do recinto de um concerto público. Através a noite, a orquestra espalha canções festivas, de triunfo ou de volúpia. Destacam-se vestidos que se arrastam. Cruzam-se olhares. Os ociosos, cansados de nada terem feito, bamboleiam, fingindo degustar insolentemente a música. Tudo é, aqui, rico e feliz. Tudo respira e inspira a preocupação e a alegria de viver. Tudo, menos o aspecto daquela turba que se apoia, ao longe, no balcão externo, apanhando gratuitamente, ao sabor do vento, um farrapo de música, e contemplando o coruscante ambiente interior.

É sempre interessante esse reflexo da alegria do rico no fundo dos olhos do pobre.

Mas, naquele dia, através aquele povo vestido de algodão e de chita, eu notei um ser cuja nobreza contrastava vivamente com toda a trivialidade do meio.

Era uma mulher alta, majestosa e de feições tão nobres que não me lembro de ter visto alguma que se assemelhasse nas coleções das belezas aristocráticas do passado. Um aroma de altaneira virtude emanava de toda a sua pessoa. O rosto, triste e abatido, correspondia exatamente ao grande luto de que se revestia. 

Também ela, como a plebe a que se misturara e que ela não via, contemplava o mundo luminoso com um olhar profundo, e escutava, meneando de leve a cabeça.
Visão singular! Certamente, pensei, a pobreza, se pobreza existe, não deve admitir a economia sórdida; é o que me diz aquela nobre fisionomia. Porque, então, permanece ela, voluntariamente, num meio em que aparece como um foco luminoso? Aproximando-me dela com curiosidade, julgo ter descoberto o motivo. 

A viúva segurava pela mão uma criança igualmente vestida de preto. Por módico que fosse o preço da entrada, seria talvez o bastante para pagar uma das necessidades do pequenino ser, ou melhor ainda, o supérfluo, um brinquedo.

Assim tornará ela a entrar, a pé, meditando e sonhando, só, sempre só. Porque o filho é turbulento, egoísta, sem doçura e impaciente: não pode, como um simples animal, o cão ou o gato, servir de confidente às dores solitárias.
Charles Baudelaire, "Pequenos poemas em prosa"

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