segunda-feira, setembro 4

Os romances e os romanções

Os romances antigos dividiam-se em dois tipos: os que tinham até quatrocentas páginas eram os caudalosos. Os que tinham mais de quatrocentas eram os torrenciais.

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Às vezes, abre a pasta, pega os três recortes de jornal de um ano longínquo, 1958, e lê as palavras que sobre um fundo amarelado previam para ele um futuro glorioso. No fim da leitura, sempre se pergunta quando virá esse futuro, com a rancorosa e envergonhada voz que lhe inspiraram os anos de anonimato.

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O poeta choramingão fica feliz quando lhe dizem que parece cada dia mais triste. É para isso que trabalha.

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De tudo em que hoje me empenho mais nada me faz feliz. De tudo agora desdenho, até do que ainda não fiz.

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Posso até versejar mal. Mas, se é o amor que me move, posso ser tão sentimental e tolo quanto o poeta mais tolo e sentimental.

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Tem muitos parentes, alguns até influentes, mas nenhuma obra-prima.

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O que todos nós desejamos é que, quando alguém disser que nossa vida é um mar de rosas, não possamos desmenti-lo.

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Não sei fazer rir, só sei provocar dó. Sou mágico de um truque só.

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Não nos envolvemos em nenhuma façanha. Sobrevivemos. Isso não é bem uma grandeza, mas é a única que temos.

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Porque as rosas se equiparam, não lhes fixe distinção. Lamente as que já murcharam, deplore as que murcharão.

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Nós, que lidamos com a literatura, desfrutemos hoje nossas conquistas gloriosas. Com a nova geração de super-robôs, não nos restarão mais que as menções honrosas.
Raul Drewnick

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