Eu adoro casamentos. Adoro ir comprar roupas com jacarés aos outlets, ter as cores todas a combinar, estrear tudo de novo como se fosse a Páscoa de antigamente, pentear o cabelo à maneira, meter um protetor gástrico no bolso a pensar nos aperitivos, ficar à espera de ver quem bebe porque eu nunca bebo e nunca me esqueço das partes picantes de todas as festas.
Quando era criança eu não queria sair de casa e só acompanhava os meus pais porque me prometiam um sumol. Os casamentos são o jackpot do sumol, o euromilhões, a disneylândia das guloseimas e das roupas com jacarés, como se fizéssemos, por um dia, um mundo mais perto de ser perfeito.
Tenho uma alma lambona, cheia de fome de coisas e nunca me basto com a maravilha. A mim, o que parece normal é catar milagres porque há milagres em toda a parte, dependem apenas da nossa capacidade de encantamento. Para uma alma assim, o amor é o cimo da montanha, o extremo do sol, a luz levantada sobre todas as cabeças.
Os que casam são melhores porque apostam tudo. As modas estão para moderações, compromissos cada vez mais pequenos, cheios de medo, mas alguns ainda são bravos para acreditarem e para sonharem o sonho inteiro. Admiro muito quem tem coragem para o sonho inteiro porque não se fazem as maiores aventuras sem heróis e eu já há muito que me convenci de que a heroicidade é toda no amor e no exercício da paz.
Que duas pessoas se juntem pelo límpido custo de se amarem é redentor. Parece que tudo na vida conspira para que existamos por alguém. Somos impelidos para alguém mas nem sempre estamos à altura de fazer o acordo, harmonizar as vontades, ceder o necessário para que funcionemos como múltiplos, um ser plural. Duas pessoas que se juntem significam esse sentido profundo da vida. Juntar não nos diminui nem nos divide, faz-nos o dobro.
Chega o tempo em que casam as nossas crianças. Que tempo de espanto. As nossas crianças são adultas e educam seus destinos. Assim, a minha sobrinha Raquel e o seu Rui. Nem sei o que pensar. Ela pode bem estar licenciada, doutorada, conduzir automóveis e pagar suas contas com o fruto do seu trabalho, mas eu tenho a impressão de que ainda nos compete mandá-la fazer o tpc, e não deixar que veja algumas notícias muito gráficas no telejornal, pedir que vista saias mais compridas, porque os palermas dos rapazes hoje já não saem à rua por um sumol.
Não tenho filhos mas sei bem que as nossas crianças jamais poderão crescer definitivamente. Nós não deixamos. Por isso, vemo-las casar incrédulos, gratos por, de alguma forma, ter tudo dado certo. Para os velhos, que as crianças casem é uma certa meta, um lugar de chegada. Temos a sensação de completar todos os ciclos de acompanhamento. É como uma batalha ganha, uma Aljubarrota de glória em que pensaremos sempre como guerreiros felizes.
Eu não gosto de princesas porque as princesas são francamente decorativas, bastante inúteis e preocupadas com enfeitar salas, eu gosto de mulheres brilhantes, que se tenham levantadas em seus próprios pés e caminhem por seu próprio destino. Assim é a Raquel. E os melhores homens são naturalmente aqueles que não temem as mulheres brilhantes. Os homens que valem a pena são os que vivem a par, brilham por eles mesmos sem escurecer a mulher que amam. Assim é o Rui.
O que queremos para as nossas crianças não é o que queremos para nós. Isso é um equívoco. O que lhes queremos é o que se lê nos livros e se vê nos filmes, nas histórias arrebatadoras que nos comovem e nos inspiram. Queremos muito mais do que temos coragem. Queremos que tenham coragem para muito, muito mais do que nós algum dia tivemos. As crianças são a promessa de melhor. Por isso lhes cedemos tudo para que a sua felicidade seja intocada. Uma felicidade que é o cimo das montanhas, o extremo do sol, a luz levantada sobre todas as cabeças.
Nenhum comentário:
Postar um comentário