A literatura não é servil. A literatura não serve a nada e a escola foi feita para servir alguém, ou a um partido político, a um ideal, enquanto a literatura foi feita apenas para encantar o outro. A literatura é feita de fantasia. Tudo o que penso, posso escrever. Nada é interditado, tudo posso dizer, desde que com uma forma elegante, bem organizada. Posso até dizer “os livro”, “os peixe nada”. Posso até dizer, mas propositadamente, conhecendo uma gramática profundamente. Aí, posso dizer qualquer coisa que quero. Só rompemos quando dominamos. Caso contrário não há rompimento. É preciso uma tradição para romper.
A literatura é essa coisa exagerada de fantasia. A gente só fantasia o que não temos. Não fantasiamos o que temos. Então, a literatura é feita de falta. O que escrevo é o que me falta. É isso que a literatura faz. A literatura é o lugar da falta. Para a escola é muito difícil cuidar da liberdade. A liberdade é muito fascinante, muito boa. A liberdade é uma coisa extremamente exagerada, bonita, clara. E a escola não dá conta disso. A escola é para conter. Criança educada é criança contida. A escola de hoje acha que esse menino é educado porque antes de responder, ele conta até dez, porque ele senta com a perna cruzada, porque ele come com a boca fechada. Todo contido é educado. Todo expansivo é mal-educado.
Bartolomeu Campos de Queirós
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