Mais tarde, naquela mesma manhã, estava a tomar um café num bar à esquina do escritório do especialista em investimentos – a estudar, pela primeira vez na sua vida, a página de economia do jornal da manhã – quando se aproximou uma sorridente mulher de meia-idade e lhe disse que depois de ter lido o que ele contava sobre a sua libertação sexual em Carnovsky se sentia também ela menos "reprimida". No banco da Rockefeller Plaza onde foi descontar um cheque, o segurança cabeludo perguntou-lhe entre dentes se podia tocar o sobretudo do Sr. Zuckerman: queria contar à mulher quando à noite chegasse a casa. Enquanto atravessava o parque, uma jovem mãe do East Side elegantemente vestida que passeava com o seu bebé e o seu cão atravessou-se-lhe no caminho e disse-lhe:
– O senhor precisa de amor, e precisa dele constantemente. Tenho pena de si.
Na sala das publicações periódicas da Biblioteca Pública, um cavalheiro de idade deu-lhe uma palmadinha no ombro e num inglês com forte sotaque – o inglês do avô de Zuckerman – disse-lhe que tinha muita pena dos pais dele. – Não contou a sua vida toda no livro – disse com tristeza. – Na vida há muito mais coisas. Mas você deixa-las de fora. Para se vingar.
E por fim, de volta a casa, tinha um negro forte e jovial da Con Ed à sua espera para ler o contador da eletricidade.
– Ouça lá, você faz aquilo tudo que vem no livro? Com aquelas moças todas? Você é um caso sério, homem. – O contador da eletricidade. Mas as pessoas já não liam só os contadores da eletricidade, também liam aquele livro
Philip Roth, "Zuckerman Libertado"
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