O que é curiosidade? Tudo começa com uma viagem. Um dia, quando tinha oito ou nove anos, em Buenos Aires, eu me perdi quando voltava da aula para casa. A escola era uma das muitas que frequentei em minha infância, e ficava a pouca distância de nossa casa, numa redondeza arborizada do bairro Belgrano. Então, como agora, eu me distraía facilmente, e todo tipo de coisa atraía minha atenção enquanto caminhava de volta para casa vestindo o uniforme branco engomado que todas as crianças da escola eram obrigadas a usar: a mercearia da esquina que, antes da era dos supermercados, tinha grandes barris de azeitonas salgadas, cones de açúcar embrulhados em papel azul-claro, latas azuis de biscoitos Canale; a papelaria com seus cadernos patrióticos ilustrando os rostos de nossos heróis nacionais e prateleiras nas quais se alinhavam as capas amarelas da coleção Robin Hood para crianças; uma porta alta e estreita com um vitral em formato de losango que às vezes era deixada aberta, revelando uma área interna escura onde um manequim de alfaiate enlanguescia misteriosamente; o gentil vendedor, um homem gordo sentado numa esquina sobre um minúsculo banquinho, segurando, como uma lança, suas mercadorias caleidoscópicas. Em geral, eu fazia o mesmo caminho para voltar da escola, contando os pontos de referência à medida que passava por eles, mas naquele dia decidi mudar o percurso. Depois de alguns quarteirões, percebi que eu não conhecia o caminho. Estava envergonhado demais para pedir informações, e assim fiquei vagando, mais espantado do que assustado, pelo que me pareceu um longo tempo.
Não sei o motivo de ter feito o que fiz, exceto o de querer experimentar algo novo, seguir quaisquer pistas que pudesse encontrar para mistérios ainda não apresentados, como nas histó- rias de Sherlock Holmes, que tinha acabado de descobrir. Queria deduzir a história secreta do médico com a bengala surrada, revelar que as pegadas das pontas dos pés na lama eram de um homem que corria para salvar sua vida, perguntar a mim mesmo por que alguém usaria uma barba preta bem tratada que indubitavelmente era falsa. “O mundo está cheio de coisas óbvias que ninguém, em circunstância alguma, jamais observa”, disse o Mestre.
Lembro-me de ter ficado consciente, com um sentimento de agradável ansiedade, de que estava entrando numa aventura diferente das que havia em minhas prateleiras e de ter experimentado algo com o mesmo suspense, com o mesmo desejo intenso de descobrir o que havia adiante, sem ser capaz de (sem querer) prever o que poderia acontecer. Senti como se tivesse entrado num livro e que estava a caminho de suas últimas páginas ainda não reveladas. O que exatamente eu estava procurando? Talvez tenha sido então que pela primeira vez concebi o futuro como um lugar que mantinha juntos todos os remates de todas as histórias possíveis.
Mas nada aconteceu. Finalmente dobrei uma esquina e me vi em território familiar. Quando finalmente vi minha casa, senti um desapontamento.
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