Conforme conceito estabelecido pelo Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), integrante da Diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB) no Ministério da Cultura (MinC), a “Biblioteca Comunitária é um espaço de incentivo à leitura e acesso ao livro. É criada e mantida pela comunidade local, sem vínculo direto com o Estado”.
Uma outra característica das bibliotecas comunitárias é que elas são a cara da sua comunidade. Seus espaços dialogam com a cultura local, são geridas pelos moradores e recebem doações da comunidade. Muitas bibliotecas comunitárias se estabelecem nas próprias casas dos moradores e por isso, possuem horário de atendimento mais flexível com a demanda da comunidade. Mesmo no horário do almoço basta o menino ou a menina bater na porta com fome de história que sairá de lá com um livro. Estas são algumas características das bibliotecas comunitárias que garantem seus espaços apinhados de crianças todos os dias. O fechamento de uma biblioteca comunitária é sempre uma grande perda para aquela comunidade porque ela faz parte do seu dia a dia.
Recentemente o governo interino anunciou a criação de bibliotecas comunitárias no Programa Minha Casa, Minha Vida. Ter bibliotecas neste programa será muito bem-vindo. Mas precisamos fazer algumas diferenciações. Primeiro vamos deixar claro que o que o governo denomina bibliotecas comunitárias na verdade se tratam debibliotecas instaladas nas comunidades. Já mencionei algumas características de bibliotecas comunitárias e agora vou levantar alguns pontos que devem ser considerados por governos (municipais, estaduais e federais) em bibliotecas instaladas nas comunidades:
Como este é um equipamento instituído por um governo, traz as diretrizes da sua política para a área da promoção da leitura. É necessário, portanto, estabelecer um diálogo permanente com a comunidade. O governo precisa realizar um importante processo de escuta, resultando em ações que reflitam as demandas de cada sociedade.
Estas bibliotecas, precisam ter uma relação construída desde o início com a comunidade local. Sem esta relação as bibliotecas correm sério risco de ficar vazias. A comunidade precisa entender que será instalada uma biblioteca e qual a importância deste equipamento.
O projeto de implantação destas bibliotecas pode e deve vir com algum padrão, por exemplo, para mobiliário, software, acervo e processo de atendimento. Mas tudo isso precisa ter possibilidade de ser customizado pela comunidade. Se as bibliotecas implantadas nas comunidades não tiverem esta abertura, as pessoas não irão se enxergar neste espaço. Não colocarão os seus pés por lá. Pensar em bibliotecas não é pensar numa rede de loja de perfumes e nem de supermercados. Nada de padronizar demais.
Geralmente quando um projeto de implantação de bibliotecas nas comunidades é concebido, se parte do princípio que esta comunidade não é leitora e que este projeto tem conhecimento do que os cidadãos precisam ler. Chegar com um acervo completamente pronto pode afastar leitores. É importante criar o vínculo do objeto-livro como um objeto de desejo. Mas para que isso aconteça é fundamental que o governo pergunte aos moradores quais são os gêneros literários, quais sãos as histórias de ficção de que gostam, quais são suas vontades e seus medos. Para se constituir o acervo de uma biblioteca é necessário saber o desejo dos futuros frequentadores desse espaço.
É necessário pensar a relação das bibliotecas a serem implantadas nas comunidades com as bibliotecas escolares, as bibliotecas públicas municipais e centros culturais. Nenhum programa de governo que pense o desenvolvimento do leitor deve fazer ação isolada. Os diferentes equipamentos existentes na comunidade devem estar interligados e projetar ações conjuntas. Desta forma será possível criar condições de estímulos para os leitores.
É importante que o governo tenha desde o início a preocupação com a sustentabilidade desta ação de implantação de bibliotecas no programa Minha Casa, Minha Vida. Será uma ação irresponsável implantar um número determinado de bibliotecas e não garantir no seu orçamento recursos necessários para mantê-las com acervo, mobiliário, equipamentos de informática, recursos humanos – bibliotecário e promotores de leitura, entre outros. Cansamos de ver bibliotecas recém implantadas serem fechadas.
Recentemente sofremos com o que aconteceu com as Bibliotecas Parques do Rio de Janeiro. Belíssimos equipamentos implantados nas comunidades que no final do ano de 2015 reduziram seu horário de funcionamento por falta de planejamento e de investimento do Estado. Estiveram mesmo bem perto de fechar. Hoje se mantém abertas graças a um convênio estabelecido com a prefeitura municipal. Convênio este que vence no final deste ano, trazendo novamente a possibilidade de fechamento de suas portas, já que o Estado declarou processo de falência há mais ou menos dois meses.
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