O menino que perguntava muito
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Marcus Penna l |
(Meu pai) foi um grande leitor e comprava livros com um sacrifício enorme. Ele assinava o Estado, via que saía algum livro, dava o dinheiro que economizava para o chefe do trem ou para o maquinista, que comprava em São Paulo e levava para Araraquara. E ele lia, lia, lia. Ele voltava do trabalho na Estrada de Ferro Araraquara (começou como escriturário) às 17h30, picava a lenha para o fogão e, enquanto minha mãe cozinhava, ele ficava lendo na sala. Eu o via lendo e perguntava: ‘É bom, pai?’. Aí ele me contava. Ou às vezes ele ficava meio assim e eu falava: ‘É triste, pai?’. Eu era um moleque chato. Quando comecei a ler, ele pediu livros para uma prima. Foi ele que me deu O Patinho Feio, percebendo que eu me achava feio, e com ele descobri, inconscientemente, que eu podia ser outra coisa. Depois, me fascinei pelo Livro dos Porquês. Eu era um menino que perguntava tudo.Ignacio de Loyola Brandão (O Estado de S. Paulo - 27/07/2016)
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