O ipê rosa que enfeitava a rua já não tem flores. Agora, é um entrelaçado de galhos nus, e assim será até que brotem novas folhas, muito tenras e intensamente verdes. Ele é a prova viva da passagem do tempo, dos ciclos que se renovam, ano após ano. E me ensina que, apesar das perdas, há sempre um recomeço. Brincam na memória velhos ditados – nada como um dia após o outro, depois da tempestade vem a bonança, vão-se os anéis, ficam os dedos… Mas para onde terá ido a tal felicidade?
Andamos todos abatidos. Governo interino que age como titular, administrações desastrosas, infraestrutura deficitária e promessas eleitoreiras de candidatos opacos a prefeituras e câmaras medíocres. Por alguns dias, nos distraímos com as Olimpíadas, mas, agora que voltamos à rotina, sentimos o peso da ressaca, não dos jogos, mas de tantos desmandos.
Falando em ressaca, para piorar as coisas, nas cidades litorâneas, o mar e os ventos fizeram muito estrago, comprometendo a qualidade de vida dos cidadãos. Orçamentos já defasados antes disso não oferecem qualquer garantia de que reparos e indenizações acontecerão em breve. E assim, tensos por vários motivos, abrimos brechas para a instabilidade emocional e, consequentemente, fragilizamos a saúde.
Depois da festa esportiva, voltou a ser ruim folhear os jornais ou assistir aos noticiários, pródigos em violência e pessimismo. Ainda sobra um pouco de orgulho de quem somos, efeito residual do evento olímpico, mas é pouco, diante do constrangimento das malandragens internas, da carência de justiça e seriedade que nos acompanham desde sempre.
O ipê rosa, lá pelo meio de 2017, voltará a florir, como todos os anos. Até quando resistirá nossa alma tão ferida de desenganos?
Madô Martins
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