Encontrou o pai soerguido nas almofadas, de cigarro entre os dedos. Ainda tinha vontade e força para fumar. A noite deixara-lhe no rosto as marcas de um cansaço já expiado até ao extremo-limite; nos olhos opacos e na boca quase irônica , a expressão de uma vontade decidida.
- Não imaginas sequer que me mandas transportar até ao vapor. Vou pelo meu pé.
Levantou-se para fazer a barba . Aguentou o primeiro cambaleio apoiando-se à cabeceira da cama.
- Estás a ver?, para ir até ao vapor dás-me o braço tu, "a bengala da minha velhice".
Assim conhecera o filho sempre o pai, e assim, superada a última insídia da degradação, o pai morria, ficando ele, conservando a sua altivez de homem superior às vicissitudes , mais forte do que o próprio destino. Era esta a realidade, o seu verdadeiro primeiro plano; tudo o resto, incluindo a mentira daqueles últimos meses, passava para plano de fundo.
No piróscafo, o pai quis ficar no convés para se despedir da sua ilha; depois desceu para o camarote.
O filho viu a ilha diminuir e desaparecer no horizonte, no imenso fulgor do mar. Foi esse o primeiro instante em que teve consciência exata e pura daquilo que perdia ao perder o pai.
Giani Stuparich, "A ilha"
Nenhum comentário:
Postar um comentário