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Tão inovador lhe saiu o poema, que o concretista o registrou no livro de patentes.
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O tempora, o mores, depois dos maus dias sempre vêm dias piores.
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Foram tempos insanos, letais. Morria-se de veneno colhido em lábios deliciosamente fatais.
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No tempo das rimas ricas as pobres rimas em ão andavam de pires na mão.
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Um poeta, se não puder ser tímido, há de ser discreto. Mas, quando disser palavras como rosa ou mulher, deverá parecer a todos que ninguém poderia dizê-las melhor.
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Como todo vício, a poesia, pelo menos no início, foi boa para mim.
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Nos desvarios em que me meto, sou governado por um triunvirato, eu, eu mesmo e eu de fato.
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Chega um momento em que só se pode esperar que você morra, e mesmo isso parece uma tarefa difícil demais para você.
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Se é famoso quem morreu, não se preocupe, meu amigo. Pode crer: não fui eu.
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Depois que se tornou um, ele agora só diz bom dia a outros poetas de antologia.
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Exemplo de coerência estética: na casa do poeta concreto, um jardim de grama sintética.
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Eu esperar grandes coisas da literatura não é estranho. Estranho seria ela esperar alguma coisa de mim.
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É um poeta modesto. Se precisa de uma estrela, só a pede ao almoxarifado poético se não puder reaproveitar uma antiga.
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Nas árvores do poema concreto, um comunicado drástico: passarinhos, só de plástico.
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Na ventania, o bem-te-vi se segura nos hífens para não cair.
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Venturosamente acabou a era dos poetas declamadores, que faziam trovejar palavras sobre o público antes de respingá-lo com perdigotos.
Raul Drewnick
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