A primeira coisa que se vê ao sair da curva é a casa elevada no bojo da pedra. Pode estar suspensa, pode estar encravada. Às vezes se confunde com a pedra, às vezes escapa dela e brilha. É sempre uma visão de relance, ligeira, pois imediatamente vem outra curva e a casa já ficou para trás. Não há como parar. Cada viajante faz um comentário, são várias as maneiras de perceber a casa. Dizem que parece castelo, que é um cubo, um quadrado; que deve ser quente, inacessível, que destoa da vegetação. Alguns ouvem um zumbido que viria dela, o eco de um diapasão. Uns veem janelas, a fachada de vidro, outros não veem nada. Já notaram uma torre, uma águia pousada no cume. Falaram de um jardim no teto, de uma placa solar. A casa é branca, é amarela, é laranja, é dourada. É cor de chumbo, cinza, lilás. Depende do dia, das nuvens, do ângulo do sol. Eu próprio já passei pela curva e dei de cara com a casa. Achei-a resplandecente, senti vontade de descer e abraçá-la, de me esquentar no sol que ela devolve. Por um segundo, tive vontade de ser a casa. Todo dia passam centenas de carros diante da casa, entre as curvas da estrada. Cada viajante leva na retina um reflexo de sua forma. A casa não é uma casa, é um estilhaço na memória do viajante. Seria preciso reunir todos eles para desenhá-la. Nunca serão suficientes para completá-la.
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