terça-feira, setembro 7

Onde se fala de poetas e de uma condessa

Xan López Domínguez
Quando digo que estou vivo, espero que você possa entender que estou vivo só por dizer.

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Há cem anos um soneto bem-sucedido bastava para garantir a fama de um poeta. Hoje, metade de um já provoca protestos e passeatas.

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Antigamente, até o mais novato dos passarinhos de um parque reconhecia lá de cima um poeta. Hoje este precisa exibir a carteirinha e o recibo do sindicato.

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Se notam que o escritor está começando um romance erótico, os advérbios se põem à disposição imediatamente, apressadamente, voluptuosamente, desavergonhadamente.

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A condessa tinha o dom de, se suspirasse, tornar pecaminoso até o ato de levar aos lábios um pedaço de pão.

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Um amigo, que como eu se apaixonou pela condessa em seu tempo, comentou que ela, se quisesse, comeria inteirinho um homem. Concordei e nos olhamos melancolicamente, talvez com o mesmo pensamento: por que ela, tendo podido, não nos havia devorado, para nosso prazer e glória?

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Logo não causarei mais preocupações a ninguém. Escritores velhos costumam morrer e escritores mortos não escrevem.

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O que costuma haver de mais peculiar na voz de um poeta velho é a tosse.

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Hoje, reconstituindo episódios de sua vida amorosa, ele se sente decepcionado e não sabe se atribui a culpa ao seu desempenho de jovem ou à sua memória de velho.

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Não confundir erro crasso com erro crássico.
Raul Drewnick

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