quinta-feira, setembro 2

Viagem

Quando o velho acendeu a lamparina de petróleo, a escuridão pouco ou nada se alterou, mas o barco parecia ter recomeçado a baloiçar. No junco mesmo ao lado, alguém cozinhava peixe com alho e molho de soja. Reativado pelos movimentos do velho, o cheiro, já de si poderoso, tornou-se ainda mais forte. As sombras não paravam de hesitar. Assim que o velho se voltou a sentar, a um metro do minúsculo círculo de luz difundido pela lamparina, o seu rosto arruinado de pescador, decorado por três reles torcidas de pêlo acinzentado, logo se desvaneceu.

As vigas da armação rangiam, ou talvez fosse apenas uma coisa qualquer que rangia contra o casco do barco, talvez uma das estacas da doca a raspar na madeira.

O velho fumava.

 Antoine Volodine, "Macau"

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