terça-feira, setembro 21

Ao correr das teclas

Às vezes me ocorrem boas ideias. Hoje, por exemplo, me veio esta: a de que o melhor que posso fazer pela literatura é não fazê-la mais.

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Quando eu era um adolescente, fui um perdulário nos meus sonhos eróticos. Lembro-me de, num deles, recusar um convite de Marilyn Monroe porque estava indo para um ménage com Sophia Loren e Brigitte Bardot.

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Dependendo dos lábios de quem a proclama, a meia-idade pode ser não mais que uma meia-verdade.

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No romantismo vivia-se de amor para se poder morrer por ele.

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Se a beleza tiver forma de mulher, são dispensáveis os adjetivos.

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Sempre tive certa verve humorística. Quando, com vinte e dois anos, eu disse que seria escritor, sorriram. Ao repetir isso aos oitenta e dois, gargalharam.

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Se ela não sabe que eu a amo, não saberá por quem sofro, não saberá por quem choro, não saberá por quem morro.

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Se o Amor não é teu senhor, por que aceitas seu chicote, por que lhe abres tua carne, por que lambes sua mão?

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Que tolos foram os tempos em que, ao vermos uma mulher, o primeiro adjetivo que nos ocorria era bela. Como se a um passarinho só pudéssemos atribuir os dons de voar e cantar.

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Amante das palavras, a mais preciosa de todas ele, com medo de que a furtem, jamais deixa que lhe saia dos lábios. Receia, num descuido ou na inconfidência de um sonho, dizer essa palavra mágica, esse tesouro, esse nome de mulher.

Raul Drewnick 

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