Não é novidade para ninguém que, desde os anos setenta, as literaturas portuguesa e brasileira são mutuamente desconhecidas. Há, claro, uma elite que lê tudo, mas em Portugal essa elite é ainda mais pequena do que a elite que costuma comprar e ler livros traduzidos, por isso, já se vê porque quase não se publicam autores do Brasil em Portugal. O que eu não sabia é que em Espanha acontece algo semelhante e já há quem se queixe de uma espécie de segregação em relação aos autores latino-americanos. Jorge Carrió, o autor do fantástico Livrarias, escreve que, nas listas dos Livros do Ano na maioria dos jornais espanhóis, como o ABC ou o La Vanguardia, o El Pais ou o El Mundo, os livros referidos são quase todos espanhóis, ignorando-se a literatura da América Latina. Ora, quando existem tantos escritores latino-americanos que ganharam o Nobel da Literatura, que aconteceu de repente? Será que os muitos países que geraram autores universais como Borges, Cortázar, Neruda, Fuentes, Bolaño..., estão em queda em termos de criatividade ou, como defende Carrión, o problema é da concentração da indústria editorial em Espanha (só chegam à Europa os escritores latino-americanos que as editoras espanholas entendam publicar) e de algo que o autor do artigo denomina «centralismo neocolonial»? Confesso que me aparecem cada vez menos propostas de autores do outro continente e cada vez mais raparigas espanholas de todas as regiões que começaram a escrever ficção, mas não me tinha passado pela cabeça que havia uma razão por detrás disto. Aqui em Portugal, parece-me mais um desconhecimento puro e duro do que se passa no país grande que fala português.
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