Magrinho, o menor do colégio. Tinha seis anos quando lá entrei, diretamente na segunda série primária. E porque era pequeno (e talvez também porque era filho de uma professora), os mais velhos debochavam de mim.
Uma tarde, eu brincava no pátio, sozinho. Era hora do recreio; a meu redor, todos corriam, jogavam bola, mas eu, distraído, esgaravatava a terra com um graveto.
De repente, achei uma moeda.
Uma moeda de duzentos réis! Que sorte. E logo em seguida achei outra moeda. E outra, e mais outra! Imaginei que tinha descoberto um oculto tesouro, decerto ali enterrado pelos piratas em épocas remotas – quando as ondas do mar vinham quebrar no pátio do colégio. Eu agora cavava furiosamente, gritando, sem poder me conter: Um tesouro! Achei um tesouro!
Não, não era um tesouro. Colocado atrás de mim, um garoto atirava habilidosamente as moedas que eu pensava estar encontrando. E de repente me dei conta: porque estavam todos a meu redor, rindo, rindo a valer. Fiquei furioso. E quando o garoto me pediu o dinheiro, não quis entregá-lo: era meu! Me arrancaram as moedas à força e foram embora, rindo. Fiquei sozinho no pátio, chorando.
Mas eu realmente tinha encontrado um tesouro. Não as moedas: a história. Aquela, dos piratas… Minha imaginação fervilhava: um tesouro.
Moacir Scliar. "Memórias de um aprendiz de escritor"
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