sábado, janeiro 8
A obra
É incrível a facilidade com que nos tempos que correm se usa a palavra "obra" a propósito de qualquer pessoa que escreveu um livro ou dois. É ainda pior quando alguém que só agora começou a alinhar umas frases numa página envia o seu original para uma editora com uma mensagem em que refere que a "obra" trata disto ou daquilo. Claro que, com a industrialização do mundo editorial, o autor parece agora importar menos do que o leitor; mas, ainda assim, gostaria de insistir em que só alguns dos autores que actualmente publicam têm ou terão "obra"... Quanto a isto, aliás, vale a pena perguntar a razão do estranho desaparecimento da referência à obra de um autor nos livros novos que vai lançando. Por exemplo, nas últimas páginas de cada livro publicado de Mário Cláudio ou Lobo Antunes (autores que têm "obra" e cerca de cinquenta anos de vida literária) aparece a lista dos livros que escreveram. Pode pôr-se também no princípio do livro, à inglesa, por ordem cronológica ou por género (muitos autores tocam vários instrumentos e podemos separar a sua obra por ficção, poesia, teatro, ensaio...); mas, quando realmente um escritor chega a um determinado patamar, é mais do que justo (e necessário para quem estuda esse autor) que se refira a obra já publicada. Aos que começam, aconselho a que usem palavras como "livro", "romance", "ficção" ou outras que se lhes assemelhem, e que desejem que essas suas primeiras experiências literárias partilháveis um dia constituam parte da sua... obra.
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