Então era aventureiro, e gostava de viagens, e de viver perigosamente, e estivera em guerrilhas na América Central, e foi mercenário na África, e fez contrabando no Paraguai, e combateu contrabandistas em Mato Grosso, e foi garimpeiro e procurou por todo o mundo sinais de extraterrestres, e alçava grandes voos dentro da vida, e por isso levava no braço direito uma águia tatuada.
E um dia ele atracou numa mesa de bar de onde via, em frente, no porto, os navios chegando e partindo. Ele ficava. O mar já não lhe sugeria mistérios, não ouvia mais os apelos das aventuras. As estradas, ele sabia, o levariam de volta àquela mesa, àquele bar onde passava os dias bebendo e sentindo o braço direito doer um pouco. A águia tatuada, inconformada, se debatia e tentava se desprender de seu braço. E ela conseguiu. O homem viu, com tristeza, a águia voar até sumir. Ele sabia que isso iria acontecer, pois o tatuador lhe dissera:
— Você não tem tatuagem, a tatuagem é que tem você.
Nenhum comentário:
Postar um comentário