quarta-feira, janeiro 26

Atração fatal

Onde estavam meus pais? Em que pensavam? O que faziam? Em que estavam ocupados, que me deixaram ser seduzido pela literatura? Eu tinha doze anos. Doze anos!

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Um humorista não precisa ser bom; basta que seja engraçado.

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O horóscopo me diz que terei um futuro brilhante, na próxima década ou um pouquinho adiante.

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A gramática tem seu modo de ver as coisas. Se lhe dizemos que um gato é charmoso, ela não diz “mas que beleza”. Assume aquele ar professoral e sentencia: “Isso é um pleonasmo!”

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É generosa a poesia. Pode-se ser poeta tanto aos dezoito quanto aos oitenta e oito anos. Tenho esperança, ainda.

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As décadas em que se entregou à literatura lhe deram uma certeza: hoje pode dizer que é um escritor veterano.

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Nem sabe mais por que decidiu ser poeta. Lembra, sem muita nitidez, que foi há muitos anos, num tempo em que era bem mais tolo do que hoje.

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Se soubesse, quando resolveu ser poeta, que a decisão lhe traria tantos dissabores, não desistiria. Sempre foi um menino esquisito.

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Que belos são os ideais nossos, durante a construção e antes dos destroços.

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Quando morrermos, quem vai se preocupar com poesia, desencavar um soneto, abrir a porta a um haicai?

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Dê-me um tempo, pediu o escritor, quando o secretário da academia lhe perguntou se queria candidatar-se a uma vaga de imortal.

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Era um desses falastrões de quem, mesmo quando mortos, se receia que a qualquer momento ergam a mão e peçam a palavra no velório.
Raul Drewnick

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