Alguns dos maiores intelectuais brasileiros do século passado foram formados lendo obras importadas adquiridas na livraria carioca. A Leonardo da Vinci foi homenageada em versos por um de seus ilustres frequentadores, o poeta Carlos Drummond de Andrade, em seu livro "As impurezas do branco", de 1973.
A livreira Vanna e o poeta |
Livraria
Ao termo da espiralque disfarça o caminho
com espadanas de fonte,
e ao peso do concreto
de vinte pavimentos,
a loja subterrânea
expõe os seus tesouros
como se defendesse
de fomes apressadas.
Ao nível do tumulto
de rodas e de pés,
não se decifra a oculta
sinfonia das letras
e cores enlaçadas
no silêncio dos livros
abertos em gravura.
Aquário de aquarelas
mosaicos, bronzes,
nus,
arabescos de Klee
piscina onde flutuam
sistemas e delírios
mansos de filósofos,
sentido e sem-sentido
das ciências e das artes
de viver: a quem sabe
mergulhar numa página,
o trampolim se oferta.
A vida chega aqui
filtrada em pensamento
que não fere; no enlevo
tátil-visual de idéias
reveladas na trama
do papel e que afloram
aladamente dançam
quatro metros abaixo
do solo e das angústias
o seu balé de essências
para o leitor liberto.
Carlos Drummond de Andrade
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