– Quem dá mais?, grita mais o leiloeiro.
– Esta bengala de castão de ouro!
(Onde anda sem levá-la o dono antigo?)
– Esta arca colonial!
(Falam dedicatórias de retratos,
falam cartas de amor, a voz trancada.)
– Esta mobília de jacarandá!
(As visitas na sala, o pai, a mãe,
a irmã, a avó cochila no sofá.)
– Este faqueiro de prata!
(Cruzados os talheres,
as mãos cruzadas.)
– Esta cômoda do século XIX!
(Soluçam as gavetas; dentro delas,
cheiro de roupa branca e de alecrim.)
– Esta louça azul de Macau!
(A fumaça da sopa?) na terrina.
Na borda (asa quebrada) desta xícara
os vestígios dos lábios da menina.
Quem tira as rosas que a moça bota
nos jarros de opaline do consolo?
E a moça presa dentro deste espelho
do toucador do quarto de dormir?
– Quem dá mais? grita mais o leiloeiro.
Bate o martelo, bate aqui, dói longe.
Mauro Mota
Nenhum comentário:
Postar um comentário