terça-feira, novembro 5

O desespero da velha

Diante do menino, por todos festejado, por todos paparicado, a velhinha enrugada deteve-se faceira: bela criatura, tão frágil quanto a velha e, como ela, sem dentes nem cabelos.

E dele a velhinha também se aproximou, querendo agradá-lo com gestos e sorrisos. Mas o menino horrorizado se debatia debaixo das carícias da boa senhora decrépita, e fazia a casa toda ressoar com seu alarido.

A boa velha então se recolheu à solidão que desde sempre a aguardava. Em um canto, repetia a si mesma entre lágrimas:

– Ah! Para nós, mulheres infelizes e velhas, passou a época de ser agradável, mesmo aos inocentes; e aos pequenos que desejamos amar, a esses apavoramos.

Charles Baudelaire, em "Pequenos poemas em prosa"

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