quarta-feira, junho 2
Belas histórias
Li a correr algures (num jornal inglês, acho), mas depois, como já não sabia onde, não voltei a encontrar o texto, pelo que já não consigo dizer se foi exactamente assim que as coisas se passaram; mas, tendo-se passado algo de muito parecido com isto, não tem no caso grande importância se o rigor não for o maior. A história é bela: numa livraria, está um senhor leitor que ouve um rapazinho a discutir acaloradamente com a mãe sobre livros, e sobre os livros todos que queria levar. Os livros são caros, já se sabe (embora as pessoas paguem o preço de três livros por um bilhete para um concerto e nunca piem sobre isto, apesar de o concerto só demorar hora e meia, enquanto o livro está na estante para a vida e pode ser emprestado a dezenas de leitores); e o miúdo tem um orçamento, ou seja, só pode escolher só um título, mas, ainda que o saiba, está a apresentar argumentos para convencer a mãe a comprar-lhe dois e está a surpreender o leitor adulto que o ouve à socapa porque não é lá muito comum um menino tão novo perceber tanto do que tem dentro um livro e querer tão desesperadamente levar livros para casa sem ser por imposição da mãe. Resultado: o leitor mais velho comove-se com isto, vai à caixa e compra um cheque-livro, pedindo duas coisas ao livreiro: que o ofereça ao grande futuro leitor e que, sobretudo, não diga que foi ele que lhe deixou aquele presente. Sai da livraria e não chega a ver, claro, o contentamento incrível do miúdo, nem a cara de surpresa da mãe. Só dá presentes anónimos destes quem dá mesmo importância ao futuro da leitura. Abençoado grande leitor.
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