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Um poeta de oitenta anos pode ser considerado futuroso, desde que cumpra um requisito: manter-se respirando pelo menos até os noventa.
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Ter oitenta e dois anos e ser um poeta é uma afirmação fácil de provar, pelo menos em sua primeira parte.
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Os textos que tenho escrito ultimamente são tão desprovidos de brilho que seria presunção demais querer que haja leitores para eles. Bastam duas ou três testemunhas, ainda que sejam de acusação.
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Devo continuar acreditando em minha relação com a poesia, mesmo que seja só para confirmar como são teimosos os velhos.
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Convém dizer que nas narrativas de um escritor, mesmo as mais íntimas, como as de natureza sexual, podem estar presentes tanto a imaginação quanto a memória. Se não estiverem, que diabo de escritor será esse?
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Entusiastas entusiasmados do sexo excitam-se até quando ouvem palavras como metalinguagem.
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No dia do seu desaparecimento, foi visto na estação rodoviária, procurando um ônibus para Estocolmo.
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Não chegou o momento. Para estar morto preciso ainda de um bom acabamento.
Raul Drewnick
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