terça-feira, março 7

O rapaz sério e a lua

Ela se vira e se revira na cama, sozinha e saudosa. Não imaginava que o rapaz pudesse ser tão sério. Há três noites ela pediu que ele lhe trouxesse a lua embrulhadinha em papel de presente, e há três noites ela abre a janela e a lua continua lá em cima. Mas quem sabe amanhã ele volte, vitorioso. O amor tudo pode.

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Toda crase é, por tradição, mal-intencionada.

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A primeira recomendação do coach literário a Susana Nepomuceno Spresz, candidata a romancista, foi: “A partir de hoje, então, você já sabe: é Suzannah, com z, dois ennes e h.

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Se digo que alguém não é poeta, acho que falo com conhecimento de causa. Eu também não sou.

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Se os dias frios estão e já sorrir-nos não querem, pensemos como serão os últimos, quando vierem.

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Compreendo a má vontade com que um coach literário costuma ser visto. Mas não é verdade que o de Suzannah Nepomuceno Spresz, candidata a romancista, lhe recomendou, como condição para se aventurar em obras de maior fôlego, tomar banhos gelados e fazer caminhadas diárias de pelo menos cinco quilômetros.

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Estando já naquela egrégia idade que dizem ser a da sabedoria, sem hesitar eu a trocaria por uma hora de tola mocidade.

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Quem há de dar-nos ouvidos, depois de nossos maus passos, depois de tantos fracassos e tantos jogos perdidos?

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Quem há, se não os vencidos, de acolher-nos nos braços, perdoar nossos erros crassos, iguais aos seus cometidos?

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Nos sonhos eu jamais rio. Nos sonhos sou um menino que cumpre amargo destino e morre de fome e frio.
Raul Drewnick

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