sexta-feira, março 10

Coisas da Ponte Velha

O tráfego de automóvel e carroça nem sempre fluía com desembaraço quando a travessia para um dos lados da cidade era feita através da Ponte Velha. Só podia passar um carro de cada vez, não havia espaço para transitar sobre o piso dois carros ao mesmo tempo, em direções opostas. O motorista em uma das entradas tinha que esperar que o outro saísse com o seu carro para que na sua vez pudesse adentrar na ponte. Até que acontecia o que sempre transtornava. Dois carros entravam na ponte ao mesmo tempo, um de cada lado, em posições contrárias. Quando se encontravam, paravam e ficavam impedindo o trânsito livre dos pedestres na bicicleta, que reclamavam impacientes com o impasse criado. Gente nervosa queria seguir em frente, mas não tinha como fazê-lo por falta de espaço. Pequeno ajuntamento de pessoas ia se formando por detrás de cada carro, do meio do aglomerado humano alguns soltavam gaiatice.


Um gritava, exasperado:

“Quero passar, antes que perca a paciência e jogue esse calhambeque no rio!”

Cada motorista não recuava de sua posição no volante. Nenhum deles queria dar marcha a ré para desobstruir a passagem para o outro automóvel seguir em frente.

O motorista da caçamba sugeriu que fosse tirado a sorte nos dados para ver quem iria recuar primeiro o seu carro para o outro ter passagem. O mulato com a voz rouca ganhou no jogo de dados para o motorista que tinha a barriga estufada, parecendo de mulher grávida. A solução encontrada nos lances com os dados desfazia o impasse entre o caminhão de carroceria de madeira e a caçamba carregada de areia, parados no meio da ponte.

Um projeto municipal foi decretado no dia seguinte proibindo que carro, carroça e animal de alto porte transitassem pela Ponte Velha.
Cyro de Mattos

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