Ao chegar ao último degrau, detém-se diante do largo corredor que se alonga sem surpresas ante seu olhar: à direita os quartos fechados dos Senhores, cinco; à esquerda sete janelas, escurecidas por folhas cegas de madeira laqueada.
Está quase amanhecendo.
Detém-se, o velho, porque precisa atualizar a contagem. Registra as manhãs que anunciou naquela casa, sempre do mesmo modo. Então acrescenta uma unidade que se perde para além dos milhares. A conta é vertiginosa, mas isso não o perturba: o fato de celebrardesde sempre o mesmo rito matutino lhe parece coerente com seu ofício, respeitoso às suas inclinações e típico do seu destino.
Depois de passar a palma das mãos no tecido engomado da calça — nos flancos, à altura das coxas —, avança a cabeça um pouquinho e recomeça a caminhar. Ignora as portas dos Senhores, mas, diante da primeira janela, à esquerda, detém-se para abrir as folhas cegas. Faz isso com gestos suaves e calculados. Repete os movimentos em cada janela, sete vezes. Só então se volta, para contemplar a luz da alvorada que entra em feixes, pelas vidraças: conhece todas as possíveis nuances e, pelo aspecto, sabe como será o dia: pode deduzir daí, às vezes, esbatidas promessas. Já que confiarão nele — todos —, é importante a opinião que vai formular. Sol encoberto, brisa leve, decide. Assim será. Então percorre de volta o corredor, dessa vez dedicando-se à parede ignorada antes. Abre as portas dos Senhores, uma a uma, e anuncia em voz alta que já é dia, com uma frase que repete cinco vezes, sem modificar nem o timbre nem a inflexão.
Bom dia. Sol encoberto, brisa leve.
Depois desaparece.
Deixa de existir até reaparecer, inalterado, na sala dos desjejuns.
Alessandro Baricco
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