Biblioteca Pública Municipal de Várzea Alegre (CE) |
Não são obras raras, obras caras. São aquelas velhas coleções encadernadas que se encontram nas salas de tantas famílias brasileiras, compradas a prestação numa época remota em que livros eram vendidos de porta em porta. É aquele Monteiro Lobato verde-escuro, aquele Jorge Amado vermelho-e-branco com letronas, aquele Dostoiévski vermelho da José Olympio cravejado de maravilhosas gravuras de Darel, Lívio Abramo, Goeldi. São as enciclopédias tornadas obsoletas pela Internet: a Delta-Larousse verde-escura, a gigantesca Mirador, a manuseada Barsa. Tem aquela coleção branca do Prêmio Nobel com uns autores que ninguém sabe mais quem são (quem diabo era Theodor Mommsen, Bjornstjerne Bjornsson?), tem aquela coleção verde com os melodramas de A. J. Cronin, tem o saudoso “Tesouro da Juventude”, e não esqueçamos os refugos das coleções de bancas de revistas: “Os Pensadores”, “Os Imortais da Literatura”, “Os Economistas”...
Muitos amigos meus hão de torcer o nariz diante de um tesouro cultural tão defasado, mas não reside aí o X da questão. O X é a existência de milhões de garotos e garotas, Brasil afora, que são doidos para ler mas não têm como, porque em suas cidades não se vendem livros, e mesmo que vendessem eles não teriam dinheiro para comprar. E não me venham com conversa de que por causa da Internet e dos videogames ninguém se interessa por livros. Quem gosta de ler gosta de livros. As bibliotecas que descrevi acima existem. Já as vi, com variações, espalhadas pelo Brasil afora, e quando as vi o que menos olhei foram as estantes. Olhei as caras mulatas ou caboclas dos adolescentes do Pará, do Paraná, do Espírito Santo, do Estado do Rio, de Minas, todos de olho enfiado num livro de Érico Veríssimo, num “Dicionário da Mitologia”, numa “Veja” do ano passado, num romance de Agatha Christie, num volume de Castro Alves. Lêem porque pertencem a uma elite: a das pessoas que tiveram um sonho e perceberam que não é sonho.
Braulio Tavares
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