terça-feira, julho 25

Sobre andar e tropeçar

Venho esquecendo muitas coisas. Mas tenho aprendido algumas, também. Uma das mais recentes é a descoberta de que andar é um verbo irregular. Na teoria, talvez não. Mas a prática diária tem me posto diante da realidade de tropeçar, tropicar, cambalear, cair, desabar.

***

Digam-me que um poeta deve ter assuntos mais preciosos do que o amor, e eu lhes direi que vocês estão agudamente enganados.

***

Se tenho alguma virtude, ela é meu comedimento. Não sou gênio nem portento. Fiz apenas o que pude.

 ***

Um dia descobriremos talvez por que estamos aqui, para que viemos . E será uma revelação tão simples, tão sem afetação e filosofia, que nos olharemos e diremos: ora, é isso, então? Isso nós já sabíamos, isso nós sempre soubemos.

***

Lembrar os dias de febre, cantar os dias de pompa, antes que o fio se rompa, antes que a vida se quebre.

***

Das loiras de sua vida, a mais gelada, hostil, malévola e inconquistável foi Estocolmo.

***

A desproporção com que Deus usou o verde em sua obra máxima, e que hoje é reconhecida pelos críticos como um dos mais gritantes erros da Criação, só começou a ser notada depois do advento do futebol, mais precisamente a partir de 1910.

***

Um dos itens do manual de sobrevivência dos haicais recomenda que, ao menor sinal de gongorismo, fujam com todas as asas que tiverem.

***

Ter seguidores na rede social, ainda que poucos, é o pior dos pesadelos para um paranoico.

***

Questão de leveza: a borboleta transporta o haicai ou é o haicai que transporta a borboleta?

***

Um poeta deve estar preparado para viver fatos extraordinários, como erguer a mão para o céu e colher uma estrela ou erguê-la e vê-la voltar decepcionantemente vazia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário