Na segunda-feira daquela semana, ao sair do trabalho à tarde, eu estava esperando por ele num café da praça São Venceslau, absorvido na leitura de um grosso livro alemão sobre a antiga cultura etrusca. Foram necessários muitos meses para que a biblioteca da universidade conseguisse para mim o empréstimo dessa obra na Alemanha. Naquele dia eu estava acabando de recebê-la; trazia-a comigo como uma relíquia e no fundo estava muito contente com o atraso de Martin, pois assim poderia finalmente folhear numa mesa de café o tão desejado livro.
Não posso evocar essas velhas culturas antigas sem uma espécie de nostalgia. De nostalgia e inveja, ao pensar sem dúvida na suave lentidão da história naquele tempo. A antiga cultura egípcia ocupa muitos milênios, a antiguidade grega durou perto de mil anos. Sob esse aspecto, a vida do ser humano como indivíduo é uma imitação da história humana: a princípio mergulhada numa imóvel lentidão, depois acelerando aos poucos e cada vez mais. Martin faria quarenta anos dentro de dois meses.
Milan Kundera, "Risíveis amores"
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