- Ceição, dá um pulinho lá e pergunta o que é que ele tem de bom, hoje. Conceição vai e volta:
- Tem abobra, chuchu, couve, repolho, agrião…
- Pergunta pra ele se tem alface. Ceição vai e volta:
- Mandou dizer que tem.
- Pergunta pra ele se a alface é nova. Ceição vai e volta:
- Mandou dizer que é.
- Pergunta pra ele quanto é o pé. Ceição vai e volta:
- Mandou dizer que é cinquenta…
- Pergunta pra ele se não acha caro. Ceição vai e volta:
- Mandou dizer que não, que é até barato.
- Então, pede dois pés. Ceição vai e volta:
- Tai, madrinha. D. Marfisa apanha os pés de alface, olha-os, examina-os.
- Bem. Agora, dá um pulinho lá e pergunta pra ele se tem troco pra uma nota de duzentos. Ceição vai e volta:
- Mandou dizer que tem.
- Pergunta pra ele se não é melhor assentar no caderno. Ceição vai e volta:
- Mandou dizer que, se a senhora quiser, ele assenta.
- Diz pra ele que não. Leva o dinheiro e paga já. Não quero mais saber de caderno. Ceição vai e volta:
- Mandou dizer que é pra senhora conferir o troco.
D. Marfisa confere:
- Tá certo. Mas esta nota parece que é falsa. Dá um pulinho lá e diz pra ele que me mande outra. Ceição vai e volta. Volta e geme:
- Tai, madrinha.
Então as duas pernas dobram, vergam – os ossos de Ceição quase se desmancham no assoalho asseadíssimo do sobrado da madrinha.
Ontem, D. Marfisa estava dizendo para a cozinheira:
- Como tu vês, Josefa, eu poupo o mais possível essa negrinha…
Athos Damasceno, "Persianas Verdes"
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