domingo, maio 19

Longa vida

– Faço anos amanhã.

– Quantos?

– Noventa e seis.

– Tudo isso?

– Acho pouco, quero mais.

– Viver tanto tempo não cansa?

– Comigo não.

– Qual é a receita?

– As amargas nunca, as açucaradas sempre.

– Quem consegue fazer isso?

– É fácil, o visual está aí mesmo.

– Esse visual nunca percebo.

– Quer saber como vê-lo?

– Me ensine, amigo.

– Admirar o céu azul com nuvens mansas faz bem ao espírito.

– Só isso? O que mais?

– Contemplar o mar com suas ondas por entre os verdes e os azuis.

– Mas o que tem a ver o viver bem dos humanos com as visões que propicia a natureza?

– O homem, meu caro, desde que se desligou da natureza virou no asfalto a pior das feras.

– E isso faz com que a gente tenha menos anos de vida?

– Com certeza.

– De que forma?

– Vivendo sem a forma natural que tivemos no início, sem querer saber as coisas como sempre foram, na sua pequenez e grandeza, só o pior acontece no hábito da existência.

– Vejo que você tem razão.

– Então comece o seu exercício de contemplar a natureza hoje mesmo.

– Isso mesmo, não vou esperar até domingo.

– Se quiser, venha comigo, não hesite. Uma boa lição de se ligar com a natureza, por exemplo, tirar bom proveito dela é quando você estiver triste.

– O que se deve fazer?

– Quando o coração bater em dó, é só escutar o canto do sabiá, a tristeza logo se evapora. Não tem remédio mais precioso do que esse para se viver em paz consigo e prolongar os anos de vida.

– Não sei como deixei de dar o valor que essas coisas merecem, estão tão perto de nós.

– De mãos dadas com a natureza, cada um vai sabendo de seu limite, sem se preocupar de que existe uma indesejada com o seu golpe final e certeiro.

– Certíssimo, amigo.

– Aí está o preceito de como durante tantos anos devemos exercer a vida, nessa travessia memorável, cheia de significados ricos.

– É bom saber qual o melhor caldo para se beber na dura lei da vida.

– Aprenda agora, não vacile, praticando essa maneira de voltar a falar com ela, escutar suas vozes, com isso prontamente desfaça o transtorno de nossos limites.

– Então receba meus parabéns efusivos por mais um aniversário de vida proveitosa, imensa.

Com a leitura de sua cartilha generosa, certamente a natureza agradece.

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