– Faço anos amanhã.
– Quantos?
– Noventa e seis.
– Tudo isso?
– Acho pouco, quero mais.
– Viver tanto tempo não cansa?
– Comigo não.
– Qual é a receita?
– As amargas nunca, as açucaradas sempre.
– Quem consegue fazer isso?
– É fácil, o visual está aí mesmo.
– Esse visual nunca percebo.
– Quer saber como vê-lo?
– Me ensine, amigo.
– Admirar o céu azul com nuvens mansas faz bem ao espírito.
– Só isso? O que mais?
– Contemplar o mar com suas ondas por entre os verdes e os azuis.
– Mas o que tem a ver o viver bem dos humanos com as visões que propicia a natureza?
– O homem, meu caro, desde que se desligou da natureza virou no asfalto a pior das feras.
– E isso faz com que a gente tenha menos anos de vida?
– Com certeza.
– De que forma?
– Vivendo sem a forma natural que tivemos no início, sem querer saber as coisas como sempre foram, na sua pequenez e grandeza, só o pior acontece no hábito da existência.
– Vejo que você tem razão.
– Então comece o seu exercício de contemplar a natureza hoje mesmo.
– Isso mesmo, não vou esperar até domingo.
– Se quiser, venha comigo, não hesite. Uma boa lição de se ligar com a natureza, por exemplo, tirar bom proveito dela é quando você estiver triste.
– O que se deve fazer?
– Quando o coração bater em dó, é só escutar o canto do sabiá, a tristeza logo se evapora. Não tem remédio mais precioso do que esse para se viver em paz consigo e prolongar os anos de vida.
– Não sei como deixei de dar o valor que essas coisas merecem, estão tão perto de nós.
– De mãos dadas com a natureza, cada um vai sabendo de seu limite, sem se preocupar de que existe uma indesejada com o seu golpe final e certeiro.
– Certíssimo, amigo.
– Aí está o preceito de como durante tantos anos devemos exercer a vida, nessa travessia memorável, cheia de significados ricos.
– É bom saber qual o melhor caldo para se beber na dura lei da vida.
– Aprenda agora, não vacile, praticando essa maneira de voltar a falar com ela, escutar suas vozes, com isso prontamente desfaça o transtorno de nossos limites.
– Então receba meus parabéns efusivos por mais um aniversário de vida proveitosa, imensa.
Com a leitura de sua cartilha generosa, certamente a natureza agradece.
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