quinta-feira, maio 16

No jardim

O pálido rosto à sombra, uma lagartixa que comeu mosca, José cochila ao sol. Os copos-de-leite estão quietos como túmulos brancos. Que sede!

Suor frio na testa, coça o queixo, puxa, é quase uma barba! A mãe surge à porta:
- Quer entrar, meu filho?

A vida escorre na ponta dos dedos. Um copo d'água, mãe. O cacto desfalece de calor.

Com mais sede ele morre mais um pouquinho. Brincam as sombras ao pé do muro que nem canteiro de gatos.

- Água, meu filho.

Bebe até a última gota e pisca o olho esquerdo para a mãe, que lhe afaga o cabelo.

- Está melhor?

A cigarra anuncia o incêndio de uma rosa encarnada. Nuvens brancas enxugam no arame do quintal. E o filho dorme, uma lágrima suspensa dos olhos, sem rolar pelo bigodinho grisalho de lagartixa.
Dalton Trevisan

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