domingo, maio 26

Soneto da buquinagem

Buquinemos, amiga, neste sebo.
A vela, ao se apagar, é sebo apenas,
e quero a meia-luz. Amo as serenas
Angras do mar dos livros, onde bebo

– álcool mais absoluto – alheias penas
consoladas na estrofe, e calmo, e gebo,
tiro da baixa estante sete avenas
em sete obras que pago e que recebo.

Amiga, buquinemos, pois é morta
Inês de antigos sonhos, e conforta
no tempo de papel tramar de novo

nosso papel , velino, e nosso povo
é Lucrécio e Villon, velhos autores,
aos novos poetas muito superiores.
Carlos Drumond de Andrade, "Viola de bolso"

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