quarta-feira, maio 15

Papagaiadas

Quando o veterinário, depois de um cuidadoso exame, disse que não havia motivo para preocupação, porque os sintomas não indicavam senão uma mudança de hábito comum aos psitacídeos na idade adulta, o papagaio, vendo-se assim denominado, tomou-se da justa ira que caracterizara seus antepassados e declarou solenemente, com todos os pê-quê-pês, que psitacídeo era a vaca da mãe do veterinário.

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Insuportáveis são os fantasmas de piratas. Chegam de madrugada, tomam todo o nosso rum e quando se vão, de manhã, esquecem na sala o papagaio.

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O tenor do condomínio e o papagaio do vizinho ensaiam um dueto: o sole mio.

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O papagaio de Flaubert papagueava bonjour mon chéri, bonsoir ma chère, bonne nuit, madame Bovary.

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Um papagaio pode até morrer, mas nunca sem antes pedir socorro e, se possível, um cafezinho.

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O homem morreu há um ano, mas o começo de sua música preferida ainda é cantado pelo papagaio: Fascination.

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Ninguém como um chato para contar a mesma piada uma noite inteira, sem trocar o papagaio nem os palavrões.

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O papagaio suburbano, assim que acorda, exige: patroa, esse café é pra hoje ou pra amanhã? Ô saco! Ninguém merece!

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Não, o papagaio de Flaubert não cantarolava a Marselhesa.

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Num leilão, quanto valeriam a machadinha de Raskolnikov, o papagaio de Flaubert e o capote de Gogol?

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