terça-feira, julho 16

O menino e o cedro

Era de fato maior que um gigante, dez vezes gigante, de tão alto que, no outono, se encontrava com as nuvens. Duzentos metros, a altura. O tronco, de casca cheia de rugas, com as raízes no coração da terra, daria madeira para cem casas. Os galhos imensos, sempre com enormes flores brancas, carregados de folhagem, sombreavam a mata embaixo. 

A guerra, entre Nico e o Vermelho, ainda não terminara. Grilim, quatro dias depois, saberia que o pai não se renderia com facilidade. Nico esperou que o sol subisse no céu e, quando esquentou de alimentar uma queimada, voltou ao cedro. Levou, desta vez, uma enxada e uma garrafa de querosene. Conseguiria com o fogo o que não conseguiria com o machado. Capinou em volta do cedro e, feito o pequeno aceiro, envolveu-o com gravetos que embebeu no querosene. Riscou o fósforo e a fogueira logo cresceu a queimar o cedro por baixo. Não havia como salvar-se e, em um ou dois dias, sem qualquer suporte, cairia. Vendo o fogo tão aceso que já comia o tronco, a fumaça subindo, retornou a casa para esperar o barulhão da queda.

– Peça para mil estacas – disse à mulher, já em casa, a lavar as mãos.

Uma hora depois, sempre a primeira a descobrir as coisas, Manió apurou o faro e sentiu o cheiro da fumaça. Latiu alto e, a saltar, puxou Grilim pelo braço como a mostrar a fumaça que vinha do cedro. Ambos correram, o menino e a cachorra, e viram a fogueira que acabaria por derrubar o Vermelho. O pai, trabalho do pai, o pai sabia como vencer as árvores! Ele, Grilim, não podia permitir aquilo e nem deixar que o cedro caísse. Tinha, pois, que apagar o fogo.

– Apagar o fogo, e depressa! – disse, a gritar, para que Manió ouvisse. [...]

Grilim contornou o oitão da casa para alcançar o rio e, alcançando-o, apanhou o balde que ali ficava, sobre as pedras, onde a mãe lavava a roupa. E, com ele cheio, retornou ao cedro e derramou a água no fogo. Repetiu o trabalho inúmeras vezes, até que viu o fogo esmorecer, enfraquecendo, e apagar-se de uma vez.

Nico, ao regressar das plantações, foi direto ao cedro. Queria calcular o tempo que o fogo gastaria para jogá-lo no chão. E, dando com o fogo gastaria para jogá-la no chão. E, dando com o fogo apagado, logo achou que aquilo fosse serviço de Grilim. Não pensou um segundo para concluir que um motivo bastante forte prendia o filho ao cedro. Não pedira e não insistira para que não o derrubasse e não fizesse as estacas? A tristeza que dele se apossara, quando decidira derrubar o Vermelho, parecia coisa de feitiço. Não devia, pois, contrariar a vontade do mundo. A alegria do filho, embora precisasse de dinheiro, valia muito mais que todas as moedas de ouro.

Percebeu, ao entrar em casa, que Grilim, de tão desconfiado, se escondia pelos cantos.

– Grilim!

O menino, muito pálido, se voltou para o pai. Era certo, como a luz do candeeiro, que a bronca explodiria. Manió também se voltou, a cabeça baixa, fingindo que estava assustada. A pergunta de Nico veio em voz leve:

– Por que você apagou o fogo?

– O Vermelho, pai, é nosso amigo –– Grilim disse, perdendo o medo, a explicar.


– Vosmecê, pai, ainda não entendeu. Ele conhece a gente e ouve tudo o que se fala.

– O Vermelho vai ficar ali, de pé, até que Deus assim queira. — E, com a voz um pouco emocionada, pediu: –– Amanhã, logo cedo, diga a ele que peço desculpas.

Grilim levou a mão aos olhos para enxugar as lágrimas. Não sabia o que dizer e como agradecer. Pensou apenas que o pai era o melhor de todos os homens. Recuou um passo e, com suavidade agora no semblante, recuou outro passo. E, finalmente, disse:

– Vamos dormir, Manió.
Adonias Filho

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