segunda-feira, julho 8

Terrível

Os passos lentos levantam poeira do chão seco. O estádio redondo já não tem grama, de tão pisoteado. Vestindo camisolões, centenas de homens caminham à toa, uns atrás dos outros, sem entender porque foram capturados e são mantidos ali.

Formam um bando sujo e malnutrido, com sede e fome sob o sol escaldante. Os camisolões exibem manchas escuras à altura dos joelhos e respingos de sangue por toda parte. Um tipo de fosso foi cavado à margem do círculo, onde os homens se revezam para fazer as necessidades. Assim, o cheiro das fezes e urina soma-se ao dos corpos suados e sem banho, e o pó levantado pelos passos adere às peles e cabelos, dando-lhes a aparência de estátuas de barro móveis.

Três vezes ao dia, alto-falantes comandam rezas e todos precisam segui-las de joelhos, com o rosto voltado para o solo. Nem todos entendem o que diz aquela voz estrangeira, mas agem como manada, seguindo o exemplo dos que estão à frente.




Às vezes, por exaustão, revolta ou loucura, um ou outro detento não se ajoelha. Rapidamente, guardas, girando no ar suas espadas, chegam até o contraventor e o decapitam, sumariamente. Uma outra equipe surge em seguida, recolhendo o corpo e a cabeça lançada a metros de distância. Vão direto para o crematório, no lado externo do estádio.

Do lado de fora, também é permitida a presença de mulheres e crianças que desejam resgatar seus entes queridos aprisionados. A esperança delas impressiona, porque nada garante que voltarão a encontrar pai, marido, irmão, filho, neto arrancados de seus lares no meio da noite e levados para trás do alambrado guardado por vigilantes armados.

Os dias se sucedem na rotina macabra. Os que morrem são substituídos por novas levas de suspeitos, que jamais terão chance de provar inocência. Só à noite há um pouco de paz, quando os homens dormem espremidos naquele pouco espaço abarrotado de infelizes.

Sem notícias de fora, não imaginam o que poderá acontecer e continuam caminhando em círculos, sem destino, do amanhecer até a noite, orando para um deus desconhecido que não os socorre e contando apenas com o consolo das estrelas.

– Mãe, acorde! Você estava tendo um pesadelo daqueles, melhor levantar. Noite terrível, hein?

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