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Beleza muita, jorravas, beleza tanta, escorrias, beleza fosca, brilhavas, beleza morta, vivias.
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Belo não é bem a palavra. Belo é um termo um tanto pretensioso. O menino que eu sou gostaria de escrever uma coisa bonita, que pudesse ser apalpada como um gato.
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A beleza dói. Li isso há muito tempo em John Steinbeck e não conheço nenhuma frase que exprima melhor a beleza. O belo dói, sim, porque nós o desejaríamos eterno, quando seu maior fascínio talvez esteja em um fulgor, um clarão, um instante, nada mais que isso. A beleza nos fere quando se mostra e nos fere mais ainda quando, tentando apreendê-la, sentimos que é impossível. Incapazes são nossas consoantes, nossas vogais, para esses acontecimentos únicos para os quais há séculos usamos adjetivos protocolares e tediosos como magnífico, lindo, maravilhoso.
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Quando eu te mandar um poema, imagina-me como se eu fosse o mais belo dos teus amigos. Talvez os versos fluam melhor e mais preciosas pareçam as rimas. E, se o mais belo dos teus amigos te mandar um poema, perdoa-lhe os possíveis defeitos e não penses em mim, para não vê-los maiores do que são. Ser magnânima é uma virtude que te cairá bem. Assim como os meus poemas têm mais beleza quando és tu que os inspiras, os dele também hão de um dia retratar-te com precisão.
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Será um belo dia, hoje. O coração se resignou, como um menino largado pela família num colégio interno, e não há mais esperança que possa ser morta.
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