Penso no quanto estávamos ao sabor das marés, por causa da conjunção das chuvas, com a lua cheia e a preamar, era fatal nossa rua transbordar e a água ameaçar entrar em nosso apartamento térreo; a água barrenta, escura, da rua sem calçamento misturada às águas negras do canal logo adiante, subindo, atraídas pela força da lua acima de nós, para além das nuvens carregadas. E eu ali no mar límpido, sabia que ele era parte do sistema de coisas que deixava minha mãe aperreada. Tudo era uma água só, entranhada no subsolo, por baixo do calçamento, minando na rua Pampulha. A água, a grande narradora da cidade onde vivíamos.
Toinho Castro, “O cheiro dos sargaços”
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